Brazilian Metallurgy, Materials and Mining Association

Mesa-redonda na ABM Week 2024 debate potencial do Brasil em relação ao uso de biocombustíveis na descarbonização da siderurgia

Impacto da logística no custo e fontes de biomassa ainda são desafios, porém, inclusão do valor do carbono com o passar do tempo deve tornar custo-benefício vantajoso com o passar do tempo

Fonte: assessoria ABM

A 8ª edição da ABM Week, realizada em São Paulo, destacou um dos temas mais urgentes da indústria siderúrgica durante a mesa-redonda "O Uso dos Biocombustíveis na Descarbonização da Siderurgia Brasileira". O evento, parte do 43º Seminário de Energia, Utilidades e Transição Energética, foi realizado no dia 5 de setembro, no Auditorium Vale-Descarbonização, e reuniu especialistas para discutir as estratégias e desafios do uso de biocombustíveis na redução das emissões de carbono no setor siderúrgico.

André Frias, Especialista de Planejamento de Energia & Utilidades da Ternium; Roberto Luís Prosdocimi Maia, Diretor Corporativo de Sustentabilidade da Usiminas; Diego Correa Ramos, Gerente de P&D da Vallourec; Marcos Prudente, Gerente de Energia e Gás Natural da Gerdau e Amaro Olimpio Pereira Junior, Professor Associado da COPPE/UFRJ, durante a mesa redonda "Uso de biocombustíveis na descarbonização da siderurgia brasileira" 

Organizada pela Comissão Técnica Energia e Utilidades, coordenada por Eder Quental de Araújo, Gerente Técnico de Energia da Gerdau, e Carlos Sadao Shiratsu, Consultor, a mesa-redonda contou com moderação de Amaro Olimpio Pereira Junior, Professor Associado da COPPE/UFRJ, que apontou que os maiores desafios para a adoção de biocombustíveis estão na logística e na escala. "Por outro lado, temos bastante recursos naturais no Brasil e vários tipos de biomassa que podem ser explorados, fora os resíduos agro-florestais, que podem ser usados como biocombustíveis", sugeriu.

Eder Quental de Araújo, Gerente Técnico de Energia da Gerdau, coordenador da mesa-redonda "O Uso dos Biocombustíveis na Descarbonização da Siderurgia Brasileira"

Roberto Luís Prosdocimi Maia, Diretor Corporativo de Sustentabilidade da Usiminas, discutiu "A Experiência da Usiminas no Uso de Biomassas", destacando os resultados alcançados e as lições aprendidas pela empresa na implementação de biomassa como alternativa ao uso de combustíveis fósseis. "A primeira experiência que tivemos aconteceu em 2012, com a intenção de diminuir um pouco a necessidade de se buscar insumos fora do Brasil", contou. Além da avaliação do custo-benefício da substituição de insumos, a preocupação ambiental foi um dos fatores determinantes para a implementação dos testes. "Naquele momento, já percebíamos que em algum momento a necessidade ambiental ia chegar e que a gente tinha que desenvolver aplicações no sentido de mitigar a pegada de carbono", lembrou Maia. "Na época, a questão econômica pesava. Esse produto era mais caro que o carvão PCI, mas na medida em que o tema ambiental se inverter e tiver um peso maior, naturalmente a gente vai precisar [dessa alternativa]. Hoje, você paga no carvão vegetal algo em torno de US$ 2 mil a tonelada, enquanto no carvão industrial se paga em torno de US$ 250 a US$ 500 por tonelada", informou.

Ele destacou, ainda, o potencial do Brasil em relação à pesquisa e aplicação de diferentes fontes de biomassa para aplicação na indústria siderúrgica. "Normalmente, ficamos presos à questão do carvão que vem de eucalipto, mas temos que expandir essa visão. Há a possibilidade de uso de outras biomassas, como resíduos orgânicos urbanos, resíduos do agronegócio e resíduos da celulose. Temos que estudar outras fontes de biomassa com as características que precisamos e os centros de pesquisa e universidades já vêm trabalhando nessa identificação. O Brasil é único em relação à geração de biomassa residual do agronegócio, por exemplo. Nas áreas urbanas também existe oportunidade, captura, tratamento e aplicação de lixo urbano", incentivou. "As indústrias de grande porte, geralmente, já tem solução completa de produção e resíduos, mas quando olhamos no entorno, encontramos um volume de pequenos produtores que podem ser fontes de material. No Vale do Aço, os resíduos da agricultura cafeeira são uma possibilidade. Por isso, temos que olhar essas alternativas", concluiu.

Marcos Prudente, Gerente de Energia e Gás Natural da Gerdau, abordou "Oportunidades e Desafios para os Biocombustíveis na Indústria do Aço", trazendo à tona as possibilidades que o uso de biocombustíveis oferece para a siderurgia, bem como as barreiras que ainda precisam ser superadas. "A preocupação, quando se fala de emissões, sempre é como você vai ser medido, avaliado e auditado e isso diz muito sobre a oportunidade das biomassas e dos biocombustíveis. Se o critério usado para ser auditado não for aceito pelas entidades escolhidas, o abatimento não é contabilizado. Então, temos entidades que nos orientam sobre a forma de colocar nossas metas e medições", disse. Ele destacou a importância que a biomassa tem na indústria do aço. "A Gerdau é um dos maiores produtores de carvão vegetal do mundo, com 250 mil toneladas de florestas próprias e quase 19 milhões de toneladas de CO2 armazenadas na forma de biomassa nessas florestas", contou. Também ressaltou a experiência de 30 anos da empresa no uso de biogás de aterro. "O biometano é uma oportunidade contínua, o desafio logístico da biomassa faz muita diferença. Quando você olha onde está o biogás para fazer o biometano, geralmente está longe de onde é consumido, então às vezes não faz sentido. Mas quando você consegue viabilizar que esse gás chegue à rede e comprovar esse abatimento, há um impacto muito grande", disse.

André Frias, Especialista de Planejamento de Energia & Utilidades da Ternium, destacou as condições favoráveis para a implantação do projeto  de uso de biometano na empresa

André Frias, Especialista de Planejamento de Energia & Utilidades da Ternium, apresentou o case da "Utilização de Biometano na Ternium Brasil", discutindo como a empresa está integrando biometano em suas operações para reduzir a pegada de carbono e destacando as condições favoráveis que tiveram para a implantação do projeto. "Tivemos um contexto muito favorável para a implantação do projeto, entre elas, a proximidade entre o local de produção e de consumo, que ficam a apenas 34 quilômetros de distância um do outro. A geração é feita no aterro de Seropédica, que foi projetado para a captação de biogás. O biogás se torna biometano na estação da Gás Verde, que tem produção de aproximadamente 150 mil m3 por dia de biometano e todo o volume é transportado via carreta", explica. 

Diego Correa Ramos, Gerente de P&D da Vallourec

A "Ampliação do Papel das Florestas Plantadas nas Estratégias de Descarbonização da Indústria Siderúrgica" foi o tema da fala de Diego Correa Ramos, Gerente de P&D da Vallourec, que incentivou a criação de modelos para a produção e uso de biomassa e aproveitamento das florestas para a captura de carbono. "Temos que olhar para o papel das florestas plantadas no contexto Brasil. Há uma gama de possibilidades de descarbonizar os processos e isso é muito distinto de região para região. Será que nós, no Brasil, estamos aproveitando nossas oportunidades de forma correta? Será que precisamos seguir os modelos colocados pela Europa e Estados Unidos? Vejo que somos um pouco diferentes, por sermos um país tropical, um país onde existe a silvicultura, o processo de manejo florestal mais bem estabelecido do mundo, com os profissionais mais gabaritados do mundo. E as florestas, com objetivos múltiplos, não necessariamente para gerar recursos renováveis, mas também com a características de ter remoções ou captura de carbono no momento do seu crescimento", provocou. Ramos também abordou a questão dos custos referentes ao aproveitamento de resíduos. "No caso dos resíduos, atualmente a logística e o processamento acabam tendo custos maiores que o próprio produto. Porém, com o passar do tempo, colocando o valor do carbono nos projetos, teremos uma possibilidade maior de investir", acredita.

Marcos Prudente, Gerente de Energia e Gás Natural da Gerdau; Amaro Olimpio Pereira Junior, Professor Associado da COPPE/UFRJ, Roberto Luís Prosdocimi Maia, Diretor Corporativo de Sustentabilidade da Usiminas; e Diego Correa Ramos, Gerente de P&D da Vallourec assistem à apresentação do executivo da Ternium

A mesa-redonda proporcionou uma discussão aprofundada sobre como o uso de biocombustíveis pode ser uma solução viável para a descarbonização da siderurgia brasileira, contribuindo para a sustentabilidade ambiental e a competitividade do setor. As apresentações e debates trouxeram insights valiosos sobre as estratégias que podem ser adotadas para superar os desafios técnicos e regulatórios, promovendo a transição para uma produção de aço mais limpa e sustentável.

Sobre a 8ª ABM Week

A ABM Week é o principal evento técnico-científico da América Latina voltado para os setores de metalurgia, materiais e mineração. Realizada anualmente pela Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM), a conferência reúne profissionais, pesquisadores e empresas para discutir as últimas inovações e os desafios enfrentados pela indústria.

A ABM Week 8ª edição tem a ArcelorMittal como anfitriã e conta com o patrocínio das seguintes empresas: DME Engenharia, Gerdau, Vale, CBMM, Gecal, Primetals, Shinagawa, SMS group / Paul Wurth / Vetta, Ternium, Usiminas, White Martins, HWI - a member of Calderys, Carboox, Ibar, Vesuvius, Villares Metals, Aperam, Danieli, Kofre, PSI, Reframax, RHI Magnesita, Beda / Lechler, BRC, Bruker, Clariant, Cordstrap, D&M, DHM Group, DITH Refractories, GMI, Harsco, IMS, Kuttner, Lhoist, Magna, Nalco Water, Phoenix, Polytec, RIP, Russula, Sinomach, Tecnosulfur, Yellow Solutions, ABB, AçoKorte, Alkegen, Atomat, Bautek, Cisdi, Coalician Carbon, Dassault Systemes, Data Engenharia, Densit, Direxa Engineering, Eirich, ElectraClean, Enacom, ESW, Evonik, Fluke, Fosbel, GE Vernova, Hastec, Heraeus Electro-Nite, Ingersoll Rand, Intelbras, Irle Rolls, Köppern, Lumar Metals, Maud Group, Nouryon, Rimac, Serthi Hidráulica, Sinosteel, Smarttech, Solenis, Spectraflow, Spraying Systems, SunCoke Energy, Timken, TSR Mill Rolls, Vamtec Group, Veolia, Vika Controls, Vixteam, Weir e ZwickRoell.

Serviço | Mesa-redonda: O uso dos biocombustíveis na descarbonização da siderurgia brasileira – 8ª ABM Week
Data: 5 de setembro de 2024
Local: Auditorium Vale - Descarbonização, Pro Magno Centro de Eventos - Av. Profa. Ida Kolb, nº 513, Jardim das Laranjeiras, São Paulo - SP
Mais informações: https://www.abmbrasil.com.br/por/evento/abm-week-8-edicao

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